Vento em Madeira - Atração Nacional (SP) na Abertura da Revirada Cultural

Uma breve história:

Uma semana após começar a estudar com a Léa no CLAM (Escola do Zimbo Trio), Teco e Léa já estavam tocando juntos num grupo de jovens promissores músicos que acompanhavam o compositor/cantor Filó Machado. Eliane Elias ao piano, Arismar do Espírito Santo à bateria (o famoso baixista só apareceria mais tarde), Nico Assumpção ao contrabaixo e José Neto na Guitarra. No ano seguinte, 1978, Léa seguia para morar nos EUA e Teco ocupava seu lugar como professor da Escola enquanto se preparava para o vestibular de medicina.

Vinte anos depois a dupla voltava a se reunir, desta vez Teco preparava um quarteto para lançar seu CD solo “ Meu Brasil“ em turnê nos EUA e Léa retornava a São Paulo após um longo retiro pelo interior com 2 filhos já criados e um baú de lindas músicas compostas ao piano, que havia substituído a flauta durante este retiro. Rapidamente o quarteto virou “ Quinteto” e CD homônimo gravado numa tarde de setembro, em Manhattan logo após uma bem sucedida apresentação no Blue Note de Nova York, ao lado de Benjamim Taubkin ao piano, Sylvio Mazzucca Jr ao contrabaixo e AC Dal Farra à bateria. Teco e Benjamim à época dirigiam o selo “ Núcleo Contemporâneo”, que serviu de inspiração para Léa lançar seu próprio selo mais tarde, o “ Maritaca”, também dedicado ao músico e à música brasileira.

Alguns anos depois Léa convidava Teco para produzir seu CD “ Cartas Brasileiras”, que acabou se tornando um panorama da Música Instrumental Paulista Contemporânea, envolvendo mais de sessenta músicos em diversas formações como, duo de voz e piano à Orquestra Sinfônica completa, passando por banda de gafieira e regional de choro. Para abrir o CD a composição “ Vento em Madeira”, que nasceu como uma peça para flauta e piano, encomenda do flautista americano Keith Underwood e que para o CD recebeu grandioso arranjo orquestral que nos leva a um verdadeiro passeio pelo Brasil mais profundo.

Ficava então o desafio: Como transpor essas novas composições, arranjos, orquestrações para uma formação menor, mantendo suas características ? Começava a nascer o “ Vento em Madeira, com uma nova maneira de pensar um grupo de formação já tão clássica (Quinteto de 2 sopros, piano, baixo e bateria), nasciam novas composições com formas e estruturas mais amplas assim como arranjos para algumas já existentes e alguns clássicos da mpb.

“ Vento em Madeira”, quinteto, é formado pelo piano elegante de Tiago Costa, que contribui também como compositor e arranjador, o contrabaixo preciso, fundamental, londrino de Fernando Demarco (adquirido de outro quinteto formado com o pianista Dinamarquês Thomas Clausen, que gerou o Cd “ Waterbikes” da Maritaca, também com Léa e Teco) que retorna ao Brasil após longa temporada morando na Europa, mais a bateria/percussão polirrítmica e criativa de Edú Ribeiro, que também contribui como compositor para o quinteto; madeiras essas somadas aos ventos das flautas de Léa Freire e dos saxes e flautas de Teco Cardoso, ambos também contribuindo como compositores. Um trabalho autoral que também revisita e homenageia alguns mestres como Moacir Santos (Samba di Amante) e Nelson Cavaquinho (Luz Negra).

Existe cada vez mais no Brasil uma confluência de gêneros e espécies, a música tradicional e folclórica vem sendo relida e a popular tem sido frequentemente mesclada à tradição erudita e clássica, seja na forma de interpretar (já bastante presente na primeira formação, no CD “Quinteto” ) ou mesmo na forma de compor e arranjar/orquestrar. O “ Vento em Madeira” (tanto o grupo como a composição) pode bem ser um exemplo desta tendência em fazer uma música popular e erudita, improvisada e estruturada, um tanto camerística mas com um pouco/bastante das ruas tambem . Algo de aldeia e global que ao mesmo tempo em que traz nossa tradição vinda do século passado, aponta para um futuro em que atenção, concentração e responsabilidades serão requeridas.

“Encontro de uma invisível e poderosa força como a do vento, atemporal, imaterial, com a sólida e enraizada estrutura da matéria/madeira que também o recicla e reoxigena, Yin/Yang, consonâncias e dissonâncias, vento e madeira“.



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